terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Rio de Janeiro - Parte I

Ipanema, Copacabana, Carnaval, UPP, Projac… Para a maioria dos brasileiros, o Rio de Janeiro se resume ao que veem nos noticiários da televisão, ou pior, na novela das 8. É claro que alguns aspectos a respeito dessa cidade há muito já não estão em discussão e fazem parte do imaginário coletivo do que o Rio representa. Sim, a cidade é maravilhosa, o Cristo Redentor é lindo e o Pão de Açucar é fenomenal. Mas a verdade é que, às vezes, tenho a impressão de que mesmo os cariocas se esquecem de outras facetas não menos interessantes da cidade onde vivem.

E eu me incluo nessa categoria de pessoas. Sempre que visito o Rio, faço mais ou menos os mesmos programas: praia de Ipanema, peça de teatro, caminhada sobre as curvas do calçadão de Copa, chopinho em algum bar metido à besta do Leblon. Da última vez que estive na cidade, me propus a fazer algo diferente do que estava acostumado. Bem diferente...

A primeira diferença foi o local de hospedagem. Decidi que ficaria em um bairro diferente, mais tradicional. Queria Centro, Lapa ou Santa Teresa, e foi esse terceiro que acabei escolhendo. Numa daquelas ladeiras de “Santè” – uma escadaria, para ser mais exato –, descobri um pequeno albergue que me agradou. Apesar do bonde estar paralizado por causa do acidente ocorrido em agosto de 2011, o que dificulta o acesso ao bairro, achei o lugar uma ótima opção de hospedagem.

Caminhar pelas ladeiras e escadarias do bairro é uma delícia. Observar os casarões do século XIX e início do XX, visitar o Museu da Chácara do Céu, tomar um chopp em qualquer barzinho da Carlos Magno – não menos metidos à besta que os do Leblon. Em Santa Teresa a vida parece ter ritmo próprio, um ritmo bom. E o que mais me impressionou no bairro foi, ali já na divisa com a Lapa, a escadaria Selaron.

Essa escadaria foi a primeira constatação daquilo que falei no início desse post: as belezas do Rio são tantas que algumas acabam ficando escondidas, restritas a poucas pessoas de sorte. Eu nunca havia sequer ouvido falar nessa escadaria. Como pode? Fiquei realmente extasiado com aquele cenário. E olha que já estive em Barcelona, conheço a obra de Gaudi de perto... e falo isso como arquiteto e como turista.

Para você que, assim como eu, nunca tinha ouvido falar na Selaron, eu explico: em Santa Tereza, como você deve ter percebido pelo texto, existem muitas escadarias. Isso mesmo, no lugar de ruas, existem escadarias. Afinal, o bairro fica em um dos muitos morros do Rio. Pois bem, essa escadaria em especial foi objeto de trabalho de um artista plástico uruguaio. Ele revestiu todos os degraus – e eles são muitos – muros e construções adjacentes com cacos de azulejo e azulejos comemorativos dos mais diversos temas, das mais diversas nacionalidades. A principal diversão dos turistas é encontrar um azulejo do seu pais, da sua cidade, ou de qualquer assunto que diga respeito à sua origem. Achei vários de Beagá...

Além de linda, a escadaria é muito divertida. Eu passaria ali uma tarde inteira observando cada um daqueles azulejos. Pena que eu ainda tinha muito para ver no Rio, não dava para ficar a tarde toda... Ah, uma dica importante para quem quer visitar a escadaria Selaron: sempre suba a escada ao invés de descer. Eu sei, para baixo todo santo ajuda, mas nesse caso vale a pena o sacrifício... quem desce tem que ficar toda hora se virando de costas para ver a parte vertical dos degraus (o "espelho", para os amigos arquitetos). Eu, desavisado, caí na bobagem de fazer isso e não foi nada inteligente.

Para te deixar com água na boca, nos próximos posts vou falar de antiguidades, DVDs de filmes raros, boteco, história, livros e mais coisas interessantes que vi no Rio.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Florença: o berço do Renascimento

Dessa vez a viagem foi complicada. Depois de 12 horas de um vôo extremamente desconfortável entre Sampa e Milão, tive que enfrentar quase duas horas de trem entre Milão e Florença, onde comecei o tour pela Itália.




Sorriso cansado na estação ferroviária de Milão

Florença – ou Firenze para os italianos – é realmente linda, com seus telhados vermelhos e a paisagem dominada pelo Duomo. É assim que os italianos denominam a igreja matriz das cidades, ou seja, cada cidade possui seu próprio duomo. Em Florença, no entanto, o duomo tem uma importância histórica e arquitetônica muito grande. Ele começou a ser construído no final do século XIII (1296), e em 1418, quando chegou o momento de se construir a cúpula, percebeu-se que na época não existia tecnologia para se vencer um vão tão grande, maior que a maior cúpula existente até então (Panteão, Roma, século II). Até que Brunelleschi, arquiteto italiano do século XV, propôs a solução adotada, escolhida por meio de concurso, depois de estudar as técnicas clássicas dos romanos e gregos. Iniciou-se então a construção do que seria a maior cúpula do mundo durante anos.





Um Duomo rodeado de Florença




A cúpula do duomo vista do campanário. Aliás, uma boa dica para ver a cúpula de perto é subir os quase 500 degraus do campanário ao invés de subir na cúpula em si.



A cidade vista do campanário



Subindo o campanário



Eu e o campanário, o campanário e eu


Mas Florença não é só Duomo. Artisticamente, a cidade é uma das mais ricas da Itália. Afinal, foi ali que começou o movimento do Renascimento, que pôs fim à Idade Média e fez ressurgir – ou retomou – a arte, a filosofia e a ciência clássicas, ou seja, da época dos gregos e romanos.


Certamente, a maior coleção de pinturas renascentistas do mundo encontra-se na Galleria degli Uffizi (ou Galeria dos Escritórios, onde anteriormente funcionavam os escritórios da família Médice, grande financiadora da arte na época do Renascimento). Os Médice possuíam uma coleção tão grande e importante, que acabou originando o museu.




Galleria degli Uffizi. É proibído fotografar dentro...






Mas a obra que realmente me impressionou em Florença não fica na Galleria degli Uffizi, mas na Galleria dell’Academia: o David, de Michelangelo. Na cidade, existem duas cópias da estátua, ao ar livre. Eu vi as duas antes de conhecer a original e mesmo assim fiquei boquiaberto. É um daqueles momentos na vida do qual não nos esquecemos. Sentei em um banco e olhei, olhei, olhei... valeu a fila e os euros gastos para entrar. Como as fotografias do dito cujo são proibídas, vou postar uma foto minha ao lado do David genérico. O original é em mármore.




Ao lado do David de Miguel Angél, nascido no Paraguai





E Florença não termina por aí. Tem ainda a Ponte Vecchio (Ponte Velha), a única poupada dos bombardeios na Segunda Guerra por ordens do próprio Hitler. O motivo? A beleza da ponte. Particularmente, eu não diria que a ponte é linda, mas certamente é muito pitoresca. Se eu fosse mandar bombardear Florença, também consideraria poupá-la (afff...).





Ponte Vecchio







Ponte Vecchio: apenas joalherias são permitidas ali



Monumento sobre a Ponte Vecchio: €50 para os casais apaixonados flagrados colocando um cadeado na grade para afirmar seu amor




Tem também o Marcado Centrale. Muito legal! É como o Mercado Central de Belo Horizonte, mas as lojas vendem produtos italianos (vino, prosciuto crudo, limoncello, pane etc.) e com o chão (bem) mais limpo. O cheiro, no entanto, é o mesmo. Ali, não dá pra deixar de experimentar o panino (sanduíche italiano), o melhor que comi até agora na Itália.





A cara não engana: o panino do Mercado Centrale de Florença é "buonissimo"










Frutas cristalizadas - não gosto muito, mas o visual é demais!



Além disso, andar, andar, andar. Florença é linda de qualquer ângulo. É preciso descobrí-la aos poucos. Algumas fotos pra aguçar sua vontade!
























quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Rapa Nui

Localizada no Oceano Pacífico, a meio caminho entre a América e a Oceania, a Ilha de Páscoa - ou Rapa Nui - é um dos vértices do triângulo que delimita a Polinésia e é a região habitada mais isolada do mundo. Apesar de ser território chileno desde 1888, a ilha não absorveu muito da cultura latina ou andina, mantendo o estilo de vida polinésio, ainda que misturado a outras influências. Tanto é assim que a chegada ao aeroporto Mataveri é acompanhado de um colar de flores, bem ao estilo havaiano.




A principal atração da ilha são os moais, imensas estátuas de pedra que variam de 2 a 22 metros (altura aproximada de um edifício de sete andares). Ainda existem muitas controvérsias a respeito da origem dos moais e dos motivos que levaram à sua construção. Especula-se que a construção dos moais seja datada de 1250 d.C. até 1500 d.C. e que eles seriam uma oferenda aos deuses, uma maneira de acalmá-los para que não causassem maremotos ou erupções vulcânicas.


Moai solitário de algum ahu


 
E as incertezas continuam. O transporte dessas estátuas desde o vulcão Rano Raraku (de onde era extraída a rocha) até os ahus (plataformas de rocha onde os moais eram erguidos) ainda continua sendo um mistério. Alguns defendem que esse transporte era feito misticamente, pelo poder do pensamento dos líderes espirituais. Outros pregam a participação de alienígenas no processo. Existem ainda os mais céticos, que sugerem o uso de troncos roliços sobre os quais os moais eram deslizados.




Os ahus localizam-se no perímetro de toda a ilha, sempre próximo ao mar. Para visitá-los, o melhor é contratar algum morador local para que o leve aos diversos ahus. Se der sorte, essa pessoa poderá falar um pouco sobre a história dos moais. Esse tipo de serviço pode ser contratado nas pousadas. Outra opção é alugar um veículo - carro ou scooter - e percorrer a ilha por conta própria.




Ahu Tongariki


Escala humana ho Ahu Tongariki

 
Outra atração de Rapa Nui - que significa "Ilha Grande" em rapa nui, o idioma local - são os vulcões. A própria ilha foi formada pelas erupções de três vulcões: Rano Raraku, a leste, Rano Kau, a sudoeste, e Rano Terevaka, ao norte. A visita aos dois primeiros é muito tranquila, sendo possível chegar de carro até bem próximo e completar o trajeto com caminhando (grau de dificuldade baixo). O Terevaka, no entanto, localiza-se em uma região em processo de erosão avançada, o que dificulta o acesso ao vulcão. O passeio só é possível a cavalo e com o acompanhamento de um guia local que conheça bem a região.


Cratera do Rano Kau

O vulcão Rano Raraku fica dentro do Parque Nacional Rapa Nui, que cobra uma pequena taxa de entrada. Esse valor dá direito a visitar o vulcão, o local de extração dos moais (onde é possível ver alguns moais inacabados) e as ruínas da Aldeia Cerimonial de Orongo, que fica nas proximidades do vulcão Rano Kau.





As atrações da ilha são todas muito bem sinalizadas




Local de onde se extraíam os moais em Rano Raraku: moais abandonados no meio do caminho





 
A única cidade existente na ilha é Ranga Roa. É, na verdade, um pequeno povoado de ruas largas e sombreadas, e com construções que mais parecem de brinquedo (as paredes são de eucatex... dão a impressão que vão desmontar a qualquer momento). Na rua principal é possível encontrar bons restaurantes, mas prepare-se para pagar caro por uma boa refeição. Aliás, os preços em geral são bastante salgados, chegando a equiparar com os praticados na Europa. Alguns restaurantes oferecem oferecem um pacote de show típico polinésio seguido de jantar típico.



Ranga Roa vista do alto de uma montanha






Rua principal de Ranga Roa






Show típico

Alguns místicos consideram a ilha o umbigo do mundo. Existe, inclusive, uma rocha que representa o exato ponto do umbigo. Essa rocha é denominada Te pito o te henua (que significa "umbigo do mundo" em rapa nui). Ao se colocar uma bússola sobre essa rocha, a agulha gira completamente desorientada. Vale a pena levar uma bússola e comprovar!




No umbigo do mundo

Em termos de praia, não espere encontrar um paraíso tropical. Apenas uma delas tem areia, as demais são praias de pedra. As ondas não são altas, ou seja, não se incomode em levar sua prancha de surf. A cor do mar, no entanto, é de um azul escuro muito bonito: o próprio azul marinho.


A única praia de areia da ilha - poderia ser cenário para a propaganda do Prestígio


Praia de pedras, típicas da ilha


Não são necessários muitos dias para se conhecer a ilha. Três dias é suficiente, mas se quiser aproveitar o fato de estar no local habitado mais isolado do mundo e ficar de papo pro ar por mais um dia, apenas para aproveitar a sensação, será uma boa pedida e certamente não se arrependerá.




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domingo, 5 de abril de 2009

Fotografias


Com as facilidades trazidas pelas câmeras digitais, fotografar se transformou em uma atividade extremamente corriqueira e muito mais difundida do que na época dos filmes. Especialmente em se tratando de viagens, a fotografia é uma excelente ferramenta para se lembrar de uma paisagem espetacular, ou de um edifício de arquitetura marcante, ou simplesmente de uma árvore bonita ou um momento de diversão.

Isso é ainda mais verdade se você estiver viajando apenas com uma mochila nas costas, sem espaço para carregar badulaques e souvenires comprados ao longo da viagem. Nesse caso, as fotografias se tornam ainda mais importantes porque, além da sua memória, elas serão sua única recordação dos locais visitados.

Mas cuidado! As fotografias também podem ser perigosas. E um grande perigo é passar a viagem inteira vendo pessoas, cidades, edifícios, paisagens etc. através de uma tela de 2,5”. Não se esqueça de ver com seus próprios olhos, de viver o lugar, de curtir, reparar nos detalhes. Pra ser sincero, eu já vi coisas tão bonitas e que me impressionaram tanto em minhas viagens que até me recusei a fotografá-las. E não me arrependo. Simplesmente, nenhuma foto que eu pudesse tirar com minha câmera compacta seria justa o suficiente com aquela paisagem e nunca poderia capturar a verdadeira essência do local.

Não me entenda errado, eu sou completamente a favor das fotografias, adoro esse tipo de arte. Mas penso que a viagem deve ser curtida no momento em que ela está acontecendo, e não apenas em casa, depois de voltar, vendo as fotos com os amigos. Enxergo as fotografias como mera ferramenta de recordação. Então, tire muitas fotos, mas lembre-se de aproveitar o real também!


Como escolher alguém para te fotografar
Viajar sozinho tem pontos positivos e negativos. A meu ver, um dos piores pontos negativos é quando você quer aparecer em uma foto e não existe nenhum rosto amigo ali pra tirar uma foto sua. Tudo bem, existe sempre a opção da “auto-foto”, mas você corre o risco de ter fotos repetitivas, todas do mesmo estilo, e sempre só de rosto. Também existe a opção da foto automática, mas às vezes é simplesmente impossível achar uma base adequada para apoiar a câmera.

Enfim, o fato é que se você está viajando sozinho (ou mesmo quando viaja a dois e quer uma foto ao lado do seu companheiro), eventualmente você terá que pedir para alguém te fotografar. E existem alguns pontos importantes a serem observados antes de escolher esse alguém.

O primeiro ponto é sempre dar preferência a um turista. Dependendo de onde você está, um morador local poderá cobrar para tirar uma foto sua, ou dependendo da pessoa, você poderá ficar sem sua câmera – sim, roubos acontecem! Isso não ocorrerá se você pedir a um turista.

O segundo ponto é tentar escolher uma pessoa que também esteja sozinha. Você correrá menos risco de receber uma cara feia como resposta (algumas pessoas são extremamente antipáticas e tiram a foto com muita má vontade). Uma pessoa sozinha está na mesma situação que você e certamente irá bater sua foto de bom grado, até porque depois ela também pode pedir que você tire uma foto dela.

O terceiro e último ponto é dar preferência para pessoas carregando câmeras semi-profissionais, ou pelo menos câmeras mais sofisticadas. Isso mostra que, provavelmente, aquela pessoa dá valor a fotos e, portanto, sabe tirar uma boa foto. Assim você não corre o risco de ter uma foto sua em frente à Estátua da Liberdade sem a tocha, ou então de ficar sem a ponta da pirâmide, no Egito, ou da Torre Eiffel, na França.

No xadrez por causa de uma foto
Se você acompanha esse blog, vai se lembrar do post no qual conto a passagem em que fui preso por fazer fotografias na Guiné. Se ainda não leu, dá uma olhada no post Day trip em N’zérékoré.


Pergunte antes de clicar
Era uma cena simples, mas muito bonita: mulheres com vestidos típicos muito bonitos e coloridos em um país pobre da África. Aquelas mulheres estavam realmente se destacando na paisagem com seus panos enrolados na cabeça e suas bijuterias e penduricalhos. Como eu estava relativamente distante, achei que elas não me veriam, mas bastou que eu as mirasse com minha lente para que elas se manifestassem. Foi um verdadeiro barraco: cinco ou seis mulheres gritando palavras que eu não entendia em um dialeto africano, muitas pessoas se aglomerando... Nada agradável. Tive que mostrar para elas que não havia tirado nenhuma foto, só então elas se acalmaram e me deixaram ir.

Depois desse episódio, eu aprendi uma lição para nunca mais esquecer: sempre pedir permissão antes de fotografar alguém. Em algumas culturas as fotografias não são bem vistas. Alguns povos acreditam que a fotografia rouba a alma das pessoas. Mesmo onde isso não é uma crença, algumas pessoas simplesmente não querem ser clicadas, e os outros devem respeitar isso. Além disso, é muito comum que pessoas cobrem para serem fotografadas, especialmente aquelas com roupas típicas da região – mesmo quando elas não vivem disso, elas costumam cobrar. Então, sempre pergunte antes para não ser surpreendido.


Contei essas passagens para te sensibilizar para os perigos das fotografias. Elas são ótimas, não fique muito neurado, apenas tenha cuidado. Curta a viagem, tire muitas fotos, mas pense duas vezes antes de clicar!
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sexta-feira, 27 de março de 2009

Planejando a própria viagem



Atualmente, é muito fácil planejar a própria viagem através da Internet. A quantidade de informação sobre lugares, meios de transporte, hospedagem, preços etc. que você pode encontrar na rede mundial de computadores é simplesmente incalculável. Entretanto, quantidade não é sinônimo de qualidade e, por isso, é preciso saber onde procurar. Não dá para confiar em qualquer site de meia-tigela que você encontrar; sites desatualizados ou com informações incompletas ou incorretas podem acabar te deixando frustrado ao se deparar com a realidade.

Nesse post, você vai encontrar algumas dicas sobre como planejar sua viagem utilizando os recursos da Internet, além de alguns endereços de sites interessantes. Se o computador ainda te assusta, se ele parece um bicho de sete cabeças prestes a arrancar a sua, coragem! Encare essa fera – você vai descobrir que ela pode ser bastante útil.


Não exagere na dose
C
omo eu disse, a quantidade de informações disponível na rede é impressionante. Entretanto, não se deixe envolver demais. Busque apenas as informações básicas sobre o que precisa saber. Se você se aprofundar demais, corre o risco de chegar ao seu destino com a sensação desagradável de que já conhece aquele lugar.

Por exemplo: precisa saber o horário de funcionamento de um museu? Então se atenha a buscar somente essa informação. Se você se deixar levar, vai acabar conhecendo sua coleção completa através da tela do computador usando o serviço de tour virtual, tecnologia já disponível no site da maioria das instituições. Lembre-se: você está pagando caro por uma viagem que certamente é muito esperada. Por isso, reserve os detalhes e as surpresas do local que irá visitar para serem descobertas e vividas lá mesmo, e não em casa, diante do seu computador.


Desconfie
É muito fácil para qualquer pessoa divulgar informações na rede e isso faz com que a veracidade dessas informações seja duvidosa dependendo da seriedade da fonte. Por isso, seja criterioso na escolha dos sites onde irá pesquisar e fique com um pé atrás quando estiver pesquisando em páginas que não inspiram muita confiança.

Para evitar problemas, dê preferência aos sites oficiais: do órgão de turismo da cidade ou do país de destino, ou da própria instituição ou empresa (museu, teatro, estação ferroviária, restaurante, hotel, parque etc.). Nessas páginas geralmente são disponibilizadas informações atualizadas e confiáveis.

Além dessas opções, existem as páginas dos guias de turismo mundialmente famosos. O único problema é que esses sites estão disponíveis apenas em inglês. Alguns exemplos dos guias disponibilizados na rede são: http://www.lonelyplanet.com/, http://www.fodors.com/, http://www.roughguides.com/. Neles você encontrará muita informação, ajuda para planejar sua viagem, possibilidade de reservar acomodação e passagens, alugar veículos etc.

Se você não fala inglês, sugiro que procure os sites das revistas de turismo brasileiras. Apesar de informações geralmente superficiais, elas também poderão te ajudar em alguns aspectos, como: aonde ir, onde comer, onde se hospedar e o que visitar.


Fóruns
Alguns fóruns de discussão também podem ser bastante úteis quando se está procurando algo mais alternativo, como por exemplo, para descobrir uma maneira econômica e rápida de viajar entre duas cidades. Minha única dica, nesse caso, é observar se existe mais de uma postagem de pessoas diferentes dando a mesma informação. Em caso positivo, fica mais fácil acreditar no que se está lendo.

O interessante dos fóruns é que as dicas presentes ali foram escritas por pessoas que já estiveram visitando o local. Assim, elas podem passar suas impressões, contar as dificuldades e falar sobre os lugares que valem à pena ou não (apesar disso ser uma escolha muito pessoal).
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Compras, reservas e contratação de serviços
Para o terror dos agentes de turismo, está cada vez mais fácil contratar serviços, comprar passagens e fazer reservas pela Internet. Todas as companhias aéreas já possuem o serviço de compra de passagem pela rede e é muito comum encontrar passagens em promoção exclusivamente para compras via web. Hotéis, pousadas e até a mais simples bed & breakfast também já possuem página na rede e possibilitam que sejam feitas reservas através dela.

A lista é interminável: alugar carros, comprar entradas para parques, museus e espetáculos, descobrir trajetos, fazer reservas em restaurantes e até, veja só, reservar produtos no free shop do aeroporto. Portanto, minha sugestão é: pesquise! Sua viagem pode até sair mais barata se utilizar os serviços oferecidos na rede.
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Durante a viagem
A Internet também pode ser uma forte aliada se você, assim como eu, for do tipo de viajante que não gosta de planejar muito sua viagem, preferindo que ela aconteça mais ou menos naturalmente. Através da rede, você pode facilmente pesquisar onde será sua próxima parada, além de comparar as diversas maneiras para se chegar até ela – taxi, trem, barco, avião, ônibus etc. Uma vez decidido o próximo destino e a maneira de chegar até lá, você pode usar a rede para achar hospedagem e para descobrir o que tem para se fazer no local (sempre tendo em mente as dicas anteriores).

Outra função excelente da Internet durante a viagem é a possibilidade de comunicação que ela oferece, mas sobre isso você encontra mais informações no post Sinais de Fumaça.


Para finalizar, a minha última dica em relação à Internet se aplica a qualquer situação, não importa se você está utilizando os fóruns, as páginas oficiais de empresas ou instituições, as páginas de guias de turismo, ou todas elas: é sempre importante observar a data da última atualização da página ou da postagem. Essa data vai te dar uma idéia se a informação divulgada ali está atualizada ou não. E se continuar na dúvida, não hesite em enviar um e-mail ou telefonar pra ter certeza das informações.

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quinta-feira, 26 de março de 2009

Sinais de fumaça

Já se foi o tempo quando um viajante ficava isolado no mundo, com dificuldades para entrar em contato com familiares, nem que fosse só para dizer o tradicional “Já cheguei e está tudo bem”. Antigamente, o sujeito teria que desembolsar muito dinheiro para falar por alguns minutos, ou mesmo alguns segundos com o Brasil via telefone.

Hoje a situação é muito diferente. Na maioria dos países, especialmente os mais turístico, mas não apenas nesses, existem as casas de telefonia onde é possível fazer ligações internacionais por alguns centavos de dólares. Call shops, cabines, locutorio, teleboutique – não importa o nome que se dê, ali você pode ligar para casa pagando um preço justo.
 
Algumas dessas casas ainda associam o telefone à Internet, ou seja, você também pode checar e enviar e-mails, ler as mensagens no Orkut ou em outros sites de relacionamentos, planejar a próxima parada da viagem etc. Muitos viajantes utilizam esses locais inclusive para alimentar seus blogs com as novidades da viagem. Os blogs, aliás, facilitam muito a vida de um viajante, pois, com eles, evita-se enviar e-mails para um batalhão de amigos e familiares ávidos por notícias. Quem quiser saber sobre o que está acontecendo e ver as fotos mais recentes, é só entrar lá e conferir por conta própria.


À moda antiga



Podem me chamar de antiquado, mas mesmo na era dos e-mails, blogs e Orkut, eu ainda sou um assíduo usuário dos cartões postais. Não se engane: eu uso todas essas ferramentas eletrônicas quando estou viajando, mas não há nada mais gostoso do que receber um cartão postal. Sabendo disso, eu sempre envio postais para pessoas queridas.



Na verdade, eu tenho um pequeno – pequeno mesmo, próprio para viagens – caderno de endereços que sempre me acompanha nas minhas aventuras mundo afora. Em cada viagem eu escolho três ou quatro pessoas para enviar um postal. Geralmente eu chego antes do cartão, mas isso não importa. O que vale é a intenção.
O que eu acho muito interessante nos postais é que eles funcionam mais ou menos como uma lembrancinha do local. Então, ao invés de comprar uma bugiganga qualquer, um imã de geladeira, ou seja lá o que for, eu envio um postal. Assim eu poupo peso e espaço na bagagem, agrado um amigo ou familiar e ainda conto um pouquinho da história ou alguma curiosidade sobre o lugar que estou visitando. Postais são ótimos! Se quiser me enviar um na sua próxima viagem, será muito bem-vindo.

Bom, então já sabe: não tem mais desculpa para deixar as pessoas preocupadas e sem notícias enquanto você curte a viagem. Nem que seja através de sinais de fumaça, comunique-se!




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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Road trip no Marrocos

Saindo de Marrakech, pé na estrada. Aluguei um carro para ir até Fez, mais pro norte do país. Apesar de estar um pouco apreensivo por enfrentar uma viagem longa em um país diferente, com estradas que não conhecia, a empolgação era maior que o medo.

Aluguei o carro no aeroporto da cidade - que aliás é bem legal - e teria que atravesar a cidade para pegar a saída de Fez. Foi a primeira aventura: errei o caminho e caí dentro da medina. Afff... que sufoco dirigir naquela confusão de gente, carros, ônibus, ruas estreitas. A sorte é que eu peguei a medina em um lugar que eu já conhecia, perto de Jeema el Fna; eu sabia que era só seguir em frente que já sairia por uma das portas da muralha que cerca a cidade antiga, e dali era fácil pegar a saída.

Acima e abaixo: aeroporto de Marrakesh




Placa do carro que aluguei. Essa letra aí equivale ao nosso "B"


Logo depois de sair da cidade, entrei em uma estrada secundária rumo aos Atlas, a cadeia de montanhas que corta o Marrocos de norte ao sul. A cadeia é tão alta que tem neve permanente no topo. E eu escolhi fazer um caminho mais longo, pelo qual teria que cruzar o Atlas duas vezes (Marrakesh e Fez ficam do lado oeste do Atlas, e a estrada que eu peguei atravessa para o lado leste e depois volta para o oeste).



Saindo de Marrakesh. Dá pra ver o Atlas lá no fundo






De repente começa a aparecer os primeiros acúmulos de gelo. Fiquei até emocionado... nunca tinha visto neve antes.







Companheiro de viagem








Do outro lado do Atlas, deserto. Não aquele deserto de dunas de areia e beduínos (esse fica mais pro oeste, sentido Saara), mas aquele tipo de deserto americano, com rochas, canyons, uma terra bem vermelha.No caminho, muitas vilas bem pequenas de um povo chamado bérbere, que vive espalhado por todo o interior do país. Eles tem uma arquitetura bem peculiar, com edificações de barro e telhados de palha planos praticamente sem inclinação.








No caminho, um pouco antes de Ouarzazate, um desvio para fora da estrada principal a caminho de Âït Ben Haddou, uma kasbah muito antiga que serviu de cenário para alguns filmes de Hollywood (os que eu me lembro são Gladiador e Lawrence da Arábia). Esse lugar é fantástico, todo de barro, parece outro mundo. Mas pra falar a verdade eu não tive coragem de entrar. Eu estava sozinho e o local estava meio deserto... não me senti muito seguro. Eu sei que atualmente apenas algumas poucas famílias ainda residem na cidade antiga.







Com esse negócio de Hollywood filmando em Âït Ben Haddou, a região acabou criando essa cultura cinematográfica. Um pouco mais à frente, chega-se a Ouarzazate, que é a capital do cinema do Marrocos. Vi alguns estúdios na beira da estrada. Bem interessante!
Seguindo viagem pelo deserto, passo por algumas kasbah perto da estrada. A paisagem é muito bonita, seca, diferente do que estamos acostumados no Brasil.


Kasbah





Vai chegando o fim do primeiro dia e tenho que parar para passar a noite. Escolho uma cidade chamada Tinehir, um hotelzinho bem barato. Custei para achar alguém que falasse inglês. Foi cômico tentar me comunicar em francês para pedir um quarto. Mas isso faz parte da aventura!




Hotel em Tinehir

Acima e abaixo: Tinehir

No segundo dia saí cedo. Dei uma parada em Gorges du Tadra (acho que a tradução é "garganta do Tadra" - uma espécie de canyon). Um lugar bem legal também. São dois paredões de rocha de uns 80 ou 100m de altura e lá embaixo é só a conta da estrada e de um rio pequeno. O vento é impressionante.





Oasis
Voltando à estrada principal, alcanço a cidade de Er Rachidia, a represa Hassan-Addakhil e a cidadezinha de Rich, onde parei para almçar já por volta das 14h. Logo depois de Rich, passando o Tunel do Legionário escavado na rocha, o clima e a paisagem começam a mudar. É hora de começar a subir o Atlas novamente. Midelt, uma cidadezinha linda, já tem um ar meio suíço e por ali'a quantidade de neve é realmente bem grande. Fiquei até parado em uma barreira de neve na estrada por uns 40 minutos até que eles liberassem o tráfego.

Rich
Represa Hassan-Addakhil



O Atlas lá no fundo de novo



Parado na barreira de neve... afff




O dia vai chegando ao fim e decido parar em Azrou uma cidade bem pequena e bastante simpática, também com um ar de Suíça. Um pouco antes de chegar em Azrou existe uma floresta de pinheiro. Pode parecer incrível, mas eu vi um bando de macacos - e dos grandes - na beira da estrada. Fiquei abismado: morei durante 3 meses no interior da Guiné, bem no meio da floresta tropical, e não vi enm um macaquinho sequer. Agora no meio de uma nevasca no Marrocos, bem em uma floresta de pinheiros, eu encontro uma família de macacos. Vai entender!

Familia de macacos na beira da estrada

Hotel em Azrou

Azrou
No dia seguinte antes de ir para Fez (que fica a cerca de 60km de Azrou) eu decidi aproveitar que já estava de carro e fui conhecer Volubilis, ruínas romanas nos arredores de Meknes (minha próxima parada depois de Fez).

Logo depois de sair de Azrou, a paisagem começa a udar novamente, a neve começa a desaparecer. Atravessei a cidade de Meknes e cheguei a Volubilis. Um lugar bem legal, vale a pena visitar.





Para ir de Volubilis até Fez, teria que passar novamente por Meknes. Quando estava saindo da cidade fui parado pela polícia. Eles disseram que eu estava correndo e teria que pagar para ser liberado. Era mentira, eu não estava correndo, eles só queriam dinheiro mesmo. Não tiveram nem sequer pudor em esconder a corrupção, simplesmente já chegaram pedindo. Eu fiquei puto, mas paguei de uma vez para ficar livre. Lá se foram 100 dirhams, cerca de 10 euros.





Cheguei em Fez e fui procurar hotel. Dessa vez fiquei em um hotelzinho melhor (nem tanto - só um Ibis) porque eu precisava lavar roupa.

Depois de me acomodar fui devolver o carro. Fim de aventura pelas estradas marroquinas. Foram ao todos 1032km. E valeu muito a pena. Eu pude conhecer um Marrocos que a maioria dos turistas não conhece. Paisagens maravilhosas, pessoas estranhas, comida diferente. É isso que faz uma viagem valer!
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