domingo, 19 de outubro de 2008

Day trip em N'zérékoré

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Na quinta-feira, dia 16/10/2008, fui a N'zérékoré, cidade localizada o sul da Guiné, já quase na fronteira com a Libéria e com a Costa do Marfim.

A distância de Canga East até lá é de cerca de 150km (85km em linha reta, segundo o Google Earth). Tempo de viagem: quase 5 horas de carro. Por aí já dá pra imaginar a qualidade da estrada... 5 horas sacolejando África afora... aff.

N'zérékoré é uma cidade grande, com cerca de 225.000 habitantes, o que é muito para os padrões da Guiné. É o maior centro demográfico do sul do país.

Tenho muita coisa para contar sobre essa viagem, então vamos por partes:


A estrada
Apesar das condições péssimas da estrada, a paisagem valeu a pena. Passamos por diversas aldeias ao longo do caminho, muitas pessoas viajando a pé, caminhões lotados de gente, muitos riachos onde as pessoas tomam banho e lavam roupas, enfim, tudo muito simples, mas muito "África"!


Uma das vilas ao nascer do sol


Mesquita da cidade de Boola


Mercado de rua de uma das vilas no caminho


Transporte africano... isso é muito normal aqui


Pessoas viajando a pé, as mulheres sempre carregando coisas na cabeça


Muitos rebanhos de gado. Os animais daqui são bem pequenos: os bois e vacas, os cabritos, os porcos e as galinhas... É engraçado!


Uma das simpáticas vilas no caminho


N'zérékoré
Pra resumir, se o Lula viesse aqui, ele não poderia repetir a célebre frase: "É tão limpo que nem parece África". A cidade é bastante suja, muitas montanhas de lixo por todo lado, muitos mercados de rua (nenhum artesanato... arghh), tudo muito simples e aparentando velho, meio caindo aos pedaços. Por onde a gente passava, virávamos atração...

Entrada da cidade


Lixo acumulado na rua, bem na entrada de N'zérékoré




Skol: copiaram a logo, mas não é a brasileira




Mercado de rua






Montanha de lixo na rua... o cheiro é insuportável!


Cadeia
Sim, eu fui preso na Guiné. Motivo: tirar fotos sem autorização.

Estávamos andando pela rua tranqüilos, tirando fotos de vez em quando, essas mesmas fotos que você viu aí acima. De repente pára um carro da polícia na nossa frente. Foi igual cena de filme, os policiais já foram descendo pelas 4 portas antes mesmo do carro parar... Gelei! Os caras foram pedindo passaporte e confiscaram a máquina do Rogério. Levaram tudo para a delegacia e disseram que estavam nos esperando lá. Souare, nosso motorista, e seu pai, que estavam com a gente, nos orientou a não falar nada e dizer que não falávamos inglês, que eles cuidariam de tudo.

É uma situação muito desagradável estar em outro país sem o seu passaporte... uma agonia. Eu sempre digo que qualquer coisa de ruim pode acontecer quando estou em outro país, desde que eu esteja com meu passaporte e meu cartão de crédito nas mãos. O resto é só mais história pra contar: ser assaltado a mão armada em NYC, não ter onde dormir no Peru, mobilizar o exército da Guiné... isso tudo faz parte da vida de um viajante. Mas ficar sem o passaporte... ahhhh, isso é grave!

Antes de ir para a delegacia, passamos em uma repartição pública para pegar o tio do Souare, um figurão aqui na Guiné, presidente do órgão que gerencia os transportes em todo o sul do país. Ele não estava, então seguimos para a delegacia o Rogério, o Souare e eu, enquanto o pai do Souare esperava pelo homem para nos encontrar mais tarde.

Chegando na delegacia, ironicamente, a minha primeira vontade foi tirar uma foto do prédio. Que lugar esquisito, meio abandonado, parece que havia acontecido um incêndio, as paredes pretas e muito suja, as salas sem portas... muito esquisito. Parecia mais uma casa abandonada invadida por mendigos.

Fomos para a sala do chefe de polícia (que aliás foi um dos que nos abordou na rua). Ele já foi logo dizendo que os nossos vistos estavam OK, sem problemas, mas que não tínhamos autorização para tirar fotos. Ele exigiu ver todas as fotos que tiramos, mandou o Rogério apagar algumas, mas liberou as minhas. Já fui logo pensando que ele ia pedir dinheiro para nos liberar (como já disse em post anterior, a Guiné é um dos países mais corruptos do mundo).

Mas foi nesse momento que o tal homem chegou. Aí tudo mudou de figura. O cara realmente é muito respeitado, o clima amenizou assim que ele entrou na sala... fiquei mais tranquilo. Depois de algumas explicações, fomos liberados sem maiores problemas.

Lógico que nossos dados ficaram registrados na delegacia, mas os caras são tão incompetentes que eles olharam meu nome no visto americano, não na primeira página do passaporte, como deveria ser. E além de incompetentes, eles são burros, porque registraram meu nome como SÃO PAULO CASTRO. Aí embaixo tem uma foto do meu visto. O primeiro item é o local onde o visto foi emitido: São Paulo. O segundo item é o meu último nome: Castro. E o terceiro item é o primeiro nome e nome do meio: Ulisses Resende. Eles foram incapazes de ler o que estavam copiando... Se bobear ainda colocaram que minha nacionalidade é americana, hahahaha.


Meu visto americano

No fim deu tudo certo: fui preso, mas não estou com a ficha suja na Guiné. Mas um tal de São Paulo Castro está ferrado... hahahaha. Não fez nada, mas já não é mais réu primário.


Chimpanzés em Bossou
Depois do trauma de ser preso, fomos fazer um pouco de turismo enquanto esperávamos algumas coisas ficarem prontas para podermos voltar. Decidimos ir a Bossou, uma vila perto de N'zérékoré onde existe uma organização que protege os chimpanzés da região. Eles fazem visitas pela mata para turistas que querem ver esses animais incríveis que conseguem utilizar pedras como ferramenta.

Nós fizemos o passeio, mas estávamos sem sorte... não vimos nem unzinho pra contar a história. Mas o passeio no meio da selva valeu!


Sede da organização




O nosso guia na floresta










No hotel
Como estávamos todos cansados e suados e ainda teríamos pelo menos 4 horas de viagem de volta (considerando que de noite tem menos tráfego, dá pra acelerar um pouco mais), resolvemos parar em um hotel só para jantar e tomar um banho.


Falta alguma coisa na foto abaixo?


Se você disse chuveiro, errou...


...o banho é de caneca!
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2 comentários:

Unknown disse...

Ulaisses,
adorei a história da prisão.
Que chique. Quer dizer então que agora conheço um fugitivo da Guiné? (Eu sei que não é fugitivo mesmo, mas assim fica mais interessante) E ainda por cima você anda com nome falso por aí... geeeeente.
Mas da próxima vez, você diz que apesar do seu nome ser São Paulo, você é do Pará. Acho que você não pode deixar passar uma oportunidade dessas, de dizer que você é da terra do calipso!
Beijo

Ricardo disse...

Fala São Paulo Castro! Conheci seu blog por meio de um pessoal da Vale e achei muito legal! Minha namorada e eu nos divertimos muito com a história da prisão e com as fotos postadas!